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O espelho sem imagem

The Wanderers – Entre as Dimensões

O espelho sem imagem

Consciência, Identidade e Autoexploração



Viagens de consciência ao cerne da vida – contos sobre percepção, mudança e os espaços invisíveis entre eles


Era um daqueles dias em que o ar parecia mais pesado do que o normal. O céu estava cinzento, as ruas vazias, e ainda assim havia uma tensão invisível na atmosfera — como uma palavra que queria ser dita, mas não conseguia.

Luca caminhava sem rumo pela cidade. Algo o atraía... para algum lugar. Ele nem sabia por que havia entrado naquela pequena rua lateral que nunca tinha visto antes. E, no entanto, parecia estranhamente familiar.

Em meio a casas abandonadas e paredes desgastadas pelo tempo, de repente surgiu um espelho. Um espelho enorme, sem moldura, no meio da calçada, sem nenhuma razão aparente para estar ali.

Luca se aproximou. Olhou para dentro, expectante. Mas... nada.

Nenhum reflexo. Nenhum reflexo de si mesmo. Nenhuma imagem de casas, céu ou rua atrás dele. Apenas uma superfície opaca, quase aveludada — profunda e impenetrável.

“Às vezes o espelho só mostra o que você não quer ver”, disse uma voz de repente.

Luca estremeceu.

Lá estava ele. Um homem envolto em um longo casaco, com olhos como luz líquida. Seu olhar era penetrante, gentil e, ainda assim, implacavelmente verdadeiro.

A princípio, Luca não conseguiu identificá-lo... seria ele real? Seria parte de um sonho? O estranho pareceu ler sua mente.

"Eu sou um dos Andarilhos", disse ele calmamente. "Aparecemos onde a fronteira entre o interior e o exterior se torna mais tênue."

Luca abriu a boca, querendo dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra saiu.

" Olhe mais atentamente", o viajante o incentivou. "O espelho não mostra sua aparência. Mostra... o que você está vestindo."

Luca se aproximou cautelosamente.

De repente, cores, formas e imagens começaram a dançar na superfície lisa. Fragmentos de memórias. Medos de infância. Anseios não ditos. Raiva reprimida. Sonhos esquecidos.

Cena após cena surgiu. Às vezes brilhantes, às vezes sombrias. Às vezes cheias de dor, às vezes cheias de esperança. As imagens não vinham do mundo... vinham de dentro dele mesmo.

Seu coração batia mais rápido.

Ele viu os momentos em que mentiu para agradar os outros. Viu as oportunidades em que fugiu — de decisões, da proximidade, de si mesmo. Viu o amor que nunca expressou. Os medos que o mantinham acordado à noite. E também a luz — aquela luz indestrutível dentro dele, que ele havia ignorado por tanto tempo.

Luca chorou. Não sabia por quê. Mas as lágrimas vieram. Intensas. Incontroláveis. Purificadoras.

“Você vai passar?”, perguntou o caminhante baixinho.

“Para onde?” Luca perguntou com a voz rouca.

“Através de você mesmo.”

Naquele momento, a superfície do espelho se abriu como água. Sem pensar, Luca atravessou.

E no segundo seguinte... ele estava em outro lugar. Um mundo novo. Ou talvez... fosse apenas uma camada mais profunda do seu próprio mundo.

O caminhante ficou parado por um instante. Sorriu. "O primeiro passo foi dado", murmurou, e desapareceu... como névoa na luz da manhã.

Fim.



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